domingo, 28 de outubro de 2012

I Encontro dos Jovens Indígenas do Amajarí “Em defesa do Meio Ambiente Saudável e Desenvolvimento Sustentável em Nossa Região” Centro Regional de Lideranças Indígena- Araçá- Amajarí



CARTA DOS JOVENS INDÍGENAS DO AMAJARÍ
     Nós jovens indígenas da região Amajari - RR, com a participação de 95 jovens dos povos: Macuxi, Wapixana e Taurepang representantes das comunidades: Araçá, Guariba, Vida Nova, Mutamba, Aningal, Ouro e Santa Inês. E instituições e entidades parceiras: Escolas Estaduais Indígenas, Secretária Municipal de Assuntos Indígenas do Amajarí- SEMAIA, Fundação Nacional do Índio- FUNAI/RR, Instituto Federal de Roraima- IFRR/Amajari, Central Única dos Trabalhadores- CUT/RR, Coletivo de Juventude da CUT/RR, Fórum das Juventudes de Roraima – FOJURR, Núcleo de Juventude Indígena de Roraima - CIR, Centro Regional de Educação Indígena do Amajarí Noêmia Peres- CREIANP, Organização dos Professores Indígenas- OPIRR, Coordenação Regional da Juventude Indígena de Amajari-, Acadêmicos de Gestão Territorial Indígena, professores e tuxauas das comunidades: Araçá, Aningal e Guariba. 
Reunidos no I Encontro dos Jovens Indígenas do Amajarí, sob o tema “Em defesa do meio ambiente saudável e desenvolvimento sustentável em nossa região”, através desta carta vimos apresentar as nossas reivindicações e propostas que contemplam os anseios da juventude indígena de Amajari:
1.      Educação: Como a educação indígena precisa se organizar para atender as demandas da juventude?  
             Que o governo Federal, Estadual e Municipal, através da Secretária de Educação garanta e cumpra os serviços de assistência de educação escolar indígena adequado com garantia de recursos necessários baseados em nossa realidade, exigimos que as estruturas das escolas em nossas comunidades sejam com boas infraestruturas dignas para que haja um bem estar para todos considerando as condições, geográficas, sociais e culturais indígenas de da região e a especificidades de cada comunidade:
                       ·                     Na Revitalização da educação indígena familiar (através de intercâmbios de famílias tradicionais promovendo oficinas de conhecimento tradicionais dos pais e filhos na valorização cultural);
                       ·                     Que as escolas indígenas de ensino médio profissionalizante de acordo com a realidade de cada povo com parcerias de instituições de ensino profissionalizante;
                       ·                     Escola com uma concepção pedagógica de empreendimento e revitalização cultual através do ensino-aprendizado teórico e prático (começar a se trabalhar com temas contextualizados de acordo com nossa realidade);
                       ·                     Trabalhar o ensino contextualizando a realidade socioeconômica, política, territorial e linguística com a concepção pedagógica indígena;
                       ·                     Participação dos jovens estudantes nas assembleias estaduais e regionais como prioridade de ensino multicultural;
                       ·                     Conscientização das organizações, entidades governamentais, lideranças e pais sobre as competências dos jovens indígenas na participação de projetos;
                       ·                     Que nós os jovens tenhamos autonomia nos nossos projetos voltados a sustentabilidade, empreendimentos e gestão nos quais nós mesmos da comunidade/região sejamos responsáveis;
                       ·                     Que na grade escolar seja colocado o ensino aprendizado desde o ensino fundamental com projetos de pesquisa e o ensino médio profissionalizante e com projeto de intervenção e estágio com bolsas de incentivos;
                       ·                     Regionalizar a nossa merenda escolar.
2.      Saúde: Como enfrentar as novidades do mundo moderno dentro das comunidades indígenas relacionadas à saúde do jovem?
Que o governo federal, Estadual e Municipal, planejem e garantam serviços diferenciados à assistência à saúde adequada e de qualidade para os jovens indígenas, com garantia de recursos necessários baseados na realidade da região e respeitando as especificidades de cada comunidade, inclusive na priorização para as formações e contratações do pessoal de saúde da comunidade local, considerando as condições econômicas, geográficas, sociais e culturais indígenas.
· Drogas: Criar grupos de Trabalho para elaborar palestras e material Educativo (grupo de jovens da região, capacitados com as instituições parceiras sejam na área educação, saúde, sustentabilidade, economia, terra, cultural e social).
· Álcool: Estimular a interlocução entre as instituições da saúde e da educação.
· Gravidez Precoce, DST/AIDS, Tabagismo: Que a SESAI crie e assegure uma coordenação de saúde voltada para jovens indígenas;
· Anabolizantes: Estimular práticas esportivas na escola e comunidade geral.
· Trânsito: Realizar aulas de educação no trânsito nas escolas.
· Remédios e Alimentos industrializados: Realizar projetos como: Horta Escolar, Roça Comunitária, Criação de aves, Piscicultura, Bovinocultura, e plantas medicinais, para uma saúde alimentar adequado. (2) Capacitar jovens das comunidades com cursos técnicos em agronomia, jornalismo, medicina e outros incluindo os cursos e técnicos buscando parceiras juntos aos órgãos competentes;
· Internet: Promover oficinas e debates sobre o uso da internet: Benefícios e malefícios na saúde do jovem.
3.      Economia: Como pensar em gerir instrumentos que garantam a sustentabilidade econômica?
Que o governo federal, estadual e municipal melhore a infraestrutura das pontes recapeamento das estradas das comunidades indígenas da região para que haja um escoamento de nossas produções agrícolas e outros. Que possamos ter parcerias das instituições e entidades para que possamos melhora a economia regional e de cada comunidade na realização de cursos e etc. Propostas feitas:
·                Criação da I Feira de produção dos jovens indígenas do Amajarí e uma estadual;
·                Reciclando a vida (coleta seletiva dos lixos dentro de nossas comunidades envolvendo os agentes ambientais, AISAN, AIS e comunidade);
·                Jovens Pecuaristas: cursos técnicos para jovens pecuaristas.
·                Qualificar os pequenos empreendedores (panificação e artes plásticas e outros);
4.      Direitos e deveres: Como garantir os direitos e deveres da juventude indígena sem ferir a tradição?
Que as instituições respeitem a forma de organização das comunidades, que haja parceiras para sensibilizar a proteção, educação, trabalho, saude das crianças e jovens de nossas comunidades respeitando nossas especificidades. Propostas feitas:
·         Ensinar as crianças os modos tradicionais da comunidade (pescar, caçar e outros).
·         Oficina de legislativa sobre a ECA;
·         Palestras de saúde para os adolescentes/jovens (sobre drogas, gravidez na adolescência, DST’s, etc.);
·         Que a comunidade denuncie ao conselho tutelar os abusos contra as crianças e adolescentes;
·         Realização de mutirão junto com o conselho tutelar para discutir as questões das crianças e dos jovens;
5.      Meio Ambiente e desenvolvimento sustentável: Como a juventude pode pensar em gerir os instrumentos que garantam a defesa do meio ambiente, território, social e cultural da nossa região?
              O direito de posse a terra já temos queremos a garantia de ampliação de nossas terras demarcada em ilha. Assim como também exigimos a fiscalização e a proteção de nossas terras uma vez que temos médios e grandes fazendeiros a nossa volta. Assim com o território garantido, os recursos naturais serão conservados, pois são importantes para cultura e o modo de vida, na buscar de tornar cada vez mais um ambiente equilibrado para os presentes e as futuras gerações. Propostas feitas:
·         Reflorestamento das áreas desmatadas, reprodução em viveiro e sensibilização da população local através de projetos;
·         Sensibilização dos membros das comunidades para a não poluição das nascentes através de oficinas e seminários;
·         Parceria com a prefeitura e outros para reciclagem de resíduos;
·         Criação de fiscalização pelas comunidades para prevenção da pesca predatória;
·         Criação de bancos de sementes, com a possibilidade de trocas de conhecimentos e repasse dos conhecimentos tradicionais.
Embora tenha havido avanços na defesa dos direitos dos povos indígenas, ainda nos deparamos com graves problemas que afligem nossas comunidades indígenas principalmente na área da educação, saúde, desenvolvimento sustentável, demarcação e regularização de nossas terras, devido à política governamental que não respeita os costumes e tradições de nosso povo.
Nesta direção, a juventude organizada nas bases se fortalece para lutar e beneficiar os povos indígenas da região e do estado, estando preparada para discussões e participação nos diversos espaços com o domínio das políticas publica.
  Queremos participar e discutir junto com as demais lideranças as questões indígenas e as especificas dos jovens, bem como o apoio dos mesmos para que esta mobilização juvenil possa crescer garantir a continuidade das lutas, tradições e culturas indígenas.  
Não há leis nem políticas especificas para a juventude indígena no Brasil, mas temos o anseio por ocupar os espaços voltados para a juventude, seja nas comunidades seja nos âmbitos governamentais e nas organizações indígenas.
 Nós jovens muitas vezes ainda tratados como incapazes e vistos como pessoas que não querem nada ou não valorizam as culturas dos nossos povos, este encontro vem para mostrar que a juventude apenas precisa de oportunidades de participação e credibilidade, ou seja, é de fundamental importância que as lideranças e organizações indígenas apóiem a juventude para que esta possa concretizar seus anseios e inserção nos movimentos indígenas em nossas comunidade e região.
 Assim nos Jovens Indígenas assinamos esta Carta para que seja enviada aos parceiros, organizações e demais interessados.


Comunidade Indígena Araçá- Terra Indígena Araçá- Amajarí-Roraima, 1 de setembro de 2012.

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